Morte de mãe e bebê carbonizadas causa pânico em mulheres com filhas em Campo Grande

Vanessa e a filha, de apenas 10 meses, foram assassinadas após feminicida alegar que não queria pagar pensão

| MIDIAMAX/LAYANE COSTA, LíVIA BEZERRA


Mulheres relataram o medo por ter filhas. (Foto: Henrique Arakaki, Midiamax)

O crime brutal que tirou a vida de Vanessa Eugênia Medeiros, de 23 anos, e da filha, Sophie Eugênia Borges, de 10 meses, no bairro São Conrado, em Campo Grande, causou pânico em mulheres com filhas.

O suspeito, João Augusto de Almeida, de 21 anos, foi preso no dia seguinte ao feminicídio, nessa terça-feira (27). No momento da prisão, ele registrava boletim de ocorrência pelo desaparecimento da companheira e sua filha.

Durante o depoimento na DHPP (Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa), João revelou detalhes do crime brutal que chocou a todos. Em pouco mais de 36 minutos, o pai da pequena Sophie detalhou de forma fria e sem demonstrar arrependimento como ocorreram os feminicídios. “Se eu não tivesse matado ela (Sophie) eu teria doado', disse em um dos trechos.

“Ele tinha desprezo pela condição de serem mulheres', afirma o delegado Rodolfo Daltro, titular da DHPP. Conforme o relato de João, ele disse que não pagaria pensão para duas mulheres.

Crime causou pânico em mulheres

Já nesta quarta-feira (28), o Jornal Midiamax foi até a região onde o casal morava com Sophie. No local, foi possível ouvir relatos de mulheres que ficaram em pânico ao saberem do duplo feminicídio que tirou a vida de Vanessa e Sophie.

Moradora do bairro São Conrado, uma mulher de 28 anos, que tem três filhas, comentou que, caso fosse solteira, iria procurar saber os antecedentes criminais das pessoas antes de se envolver em relacionamento.

“A gente não pode confiar em ninguém hoje, ainda mais para se envolver, ter um relacionamento e colocar a pessoa em casa. A primeira coisa que eu tomaria providência é ir na delegacia, puxar o nome da pessoa para saber se tem agens, boletim de ocorrência por violência doméstica. Porque o mundo já é difícil para a mulher. Dá medo, ainda mais para quem levanta de manhã, vai trabalhar cedo, ainda mais para essas mulheres que muitas das vezes estão no mundo sozinha', opinou.

No entanto, vale ressaltar que João Augusto é réu primário, ou seja, não possui agens pela polícia. Também, a polícia não encontrou registro de denúncias envolvendo violência doméstica contra ele.

A moradora ainda revelou ao Jornal Midiamax que matriculou uma das filhas em aulas de defesa pessoal. “Eu tenho uma menina que inclusive coloquei para fazer luta, para fazer um esporte de defesa pessoal, porque esse mundo tá muito sem segurança para nós mulheres, então ela precisa saber o mínimo. Porque uma mulher hoje tem que se proteger de todas as formas', falou.

“Não era minha vez”

Também moradora da região do São Conrado, uma idosa de 70 anos relatou que tem uma filha solteira e já alertou sobre as pessoas com quem a mulher se envolve. “Deus me livre! Eu tenho minha filha que é separada e ela fica namorando e eu falo ‘cuidado, cuidado’', relatou.

Ao opinar sobre o duplo feminicídio, a idosa ainda relembrou o motivo de ter se separado de seu ex-marido, pai de seus filhos. Segundo o relato, ela sofria violência física e psicológica por parte do ex-companheiro, que também agrediu os próprios filhos. Depois que separou, se envolveu com o atual marido, já falecido.

“Eu larguei do pai deles justamente por causa disso, porque eu era espancada mesmo, sustentava eles. E aí eu larguei e casei de novo e meu esposo que me ajudou a criá-los e educá-los, mas ele faleceu e hoje eu não quero saber de ninguém não. Eu só não morri, porque não era minha vez não. Ele me batia, além da violência psicológica, quando meus filhos cresceram começamos a enfrentar ele e teve vezes que apanhava eu e meu filhos. É horrível! Tomei medo, ele me batia grávida', contou.

‘Mulheres estão desprotegidas’

Já a cabeleireira Maria José dos Santos, de 64 anos, pontuou que as mulheres estão desprotegidas e que isso precisa mudar. “A maioria [das mulheres] estão sendo desprotegidas, não estão sendo protegidas pela lei. Muitas vezes, as mulheres vão pedir proteção e acabam sendo mortas pelo ex-marido ou ex-namorado', opinou.

A diarista Clarice Rufino, de 45 anos, disse ao Jornal Midiamax como se sente como mãe e mulher atualmente. “Eu fico constrangida porque ser mãe e mulher é uma coisa bem complicada, pois mesmo com as leis severas continuam acontecendo essas coisas. Sendo mãe de mulher, a preocupação é maior, pois sabemos que não é só no namoro e casamento que tem esses tipos de problemas', desabafou.

Ela também falou sobre a personalidade que criminosos escondem para conhecidos. “Não é fácil! A gente convive com muitas pessoas, você vê a cara de uma pessoa boazinha e não sabe o que se a na cabeça dela', comentou.

Na terça-feira (27), uma amiga de Vanessa disse ao Jornal Midiamax que João Augusto era considerado por muitos como uma pessoa ‘tranquila’. “Ninguém que o conhecia imaginava. Ele era o tipo de pessoa que você olhava e dizia: ‘Esse não mata uma mosca’. Mas é aí que você se surpreende', relatou.

“Eu odiava a Sophie', disse o pai

O depoimento foi prestado ao delegado Rodolfo Daltro, titular da DHPP (Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa). João falou sobre o começo do relacionamento entre ele e Vanessa, quando se conheceram em um aplicativo de relacionamento e aram a morar juntos com dois meses de namoro.

Quando questionado sobre como era o relacionamento, João disse que era conturbado, que havia muitas brigas, discussões, que era ciumento e que Vanessa não aceitava os pedidos de mudança de comportamento.

Quando Vanessa ficou grávida, João disse ter aceitado a gravidez, mas depois que Sophie nasceu, ele revelou que ou a ter raiva da filha. Disse ter ódio quando a bebê completou dois meses. “Se eu não tivesse matado ela (Sophie) eu teria doado'.

Apesar de não estar sob efeito de nenhuma droga, João não demonstrou nenhum remorso pelos crimes. Ele ainda falou que Vanessa queria se separar logo após que a bebê nasceu, mas ele não aceitava o fim, já que temia que a pensão a ser paga pudesse ter um valor muito alto.

“Ela (Vanessa) disse que ia embora com a pequena e que ia fazer a Sophie me odiar e que se alguma coisa acontecesse com ela, a bebê ficaria com minha cunhada.', disse João. 

Crime planejado há dois meses

Após a polícia tomar conhecimento do crime, Daltro revelou que testemunhas prestaram depoimento na delegacia. À polícia, as testemunhas relataram que o suspeito já estava com a ‘ideia’ de cometer o crime há cerca de dois meses, mas ninguém acreditava.

“Nós encontramos uma testemunha hoje que nos relatou que há cerca de dois meses ele disse: ‘Eu vou matar a minha mulher e meu filho’. Ele pediu para essa pessoa [explicar] se sabia como usar os nós para prender os pés e as mãos dela, porque pretendia matar as duas. Já naquele período ele pretendia queimar os corpos. Segundo as testemunhas, era tão absurdo o que ele falava que as testemunhas não ‘botavam fé’', contou o delegado da DHPP.

Também, foram mostradas algumas mensagens, em que o suspeito diz para as testemunhas que precisa carbonizar o corpo das duas o mais rápido possível. “Ele falou ‘eu tenho que queimar logo os corpos porque eles vão começar a feder’', detalhou Daltro.

Mesmo com o crime já planejado, o suspeito aparentava ser um pai amoroso nas redes sociais. Ele se identificava como ‘pai da Sophie’ em sua biografia e compartilhava fotos com a filha e esposa, sendo que a última publicação com Vanessa e a filha foi feita no dia 10 de fevereiro.

As imagens publicadas na rede social pelo suspeito contrastam com o crime bárbaro que tirou a vida de Vanessa e Sophie nessa segunda-feira (26).

‘Nos causou mal-estar’, disse delegado sobre frieza de assassino 

Horas após a prisão, o delegado Rodolfo Daltro, da DHPP concedeu uma coletiva de imprensa para revelar detalhes da dinâmica do crime, que estaria sendo planejado pelo suspeito há dois meses. Durante interrogatório, o companheiro de Vanessa negou arrependimento e demonstrou total frieza, fato que abalou o delegado e a equipe que ouviram o suspeito nessa terça-feira (27).

Daltro, que acumula 11 anos de dedicação à polícia, se emocionava a todo momento ao detalhar os fatos à imprensa. Ele comentou que precisou interromper o interrogatório em determinado momento, devido à brutalidade do caso.

“Tivemos que parar, há certo momento em que eu paro, eu como pai e os outros policiais que estavam ali na sala. De tamanha brutalidade e frieza de relatar, como matou, são detalhes muito grotesco que vou até poupá-los de como se deu a esganadura da criança, ele relatando a reação da criança. Apesar de certo período no desempenho da função policial, isso nos causou uma perplexidade e mal-estar', relatou o delegado da DHPP.

Além dele, outro policial que atua na área há 22 anos, também ficou abalado durante o interrogatório. “Um caso que, para policiais há muitos anos nesse trabalho, nos chocou de por se tratar de uma criança, de um pai matando uma criança pela forma que foi feito', pontuou Rodolfo Daltro.

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