Lelê conta história de adoção que desafia preconceito e celebra o amor

Entre tranças rosas e amor sem limites, menina de 10 anos narra jornada de adoção que transformou uma família

| CLAYTON NEVES / CAMPO GRANDE NEWS


Alessandra ao lado dos pais, Vinícius e Aline. (Foto: Arquivo Pessoal)

'Eles significam tudo para mim, eles são tudo da minha vida'!

É com essa frase que a pequena Alessandra Benko de Carvalho, a ‘Lelê’, resume a importância dos pais, Aline Benko e Vinicius Carvalho de Sousa. Aos 10 anos, a menina de tranças rosas, fã de filmes de terror e das aulas de artes, fala com desenvoltura sobre o quanto ama brincar de cabeleireira com a mãe, ear aos fins de semana e até se esconder das broncas inevitáveis da rotina.

Mas, na família, um detalhe torna tudo ainda mais profundo. Alessandra é filha por adoção e 'nasceu' aos 4 anos no seio de uma família que a aguardava de braços abertos, lotados de acolhimento, proteção e liberdade para ser exatamente quem é.

Casados há 24 anos, Aline e Vinícius já tinham dois filhos biológicos quando decidiram que era hora de aumentar a família por meio da adoção. “Era um sonho antigo nosso. Algo que brotava no coração dos dois', conta a mãe.

O processo começou em 2018, com a inscrição em um curso preparatório. Um ano depois, em 25 de maio de 2019, exatamente no Dia Nacional da Adoção, a habilitação do casal foi aprovada. “Quatro meses depois a Lelê chegou e no mesmo dia que a conhecemos ela já dormiu na nossa casa. Nosso parto foi a jato', brinca Aline.

A rapidez surpreendeu até mesmo os pais, isso porque a adoção no Brasil é marcada, geralmente, por processos longos e exaustivos. Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça, mais de 4.600 crianças e adolescentes aguardam por um lar. Desses, a maioria é negra ou parda e com mais de 4 anos, justamente o perfil que enfrenta maior resistência entre as famílias aptas a adotar.

Alessandra tinha exatamente esse perfil: uma menina negra de 4 anos. No entanto, para Aline e Vinicius, essa nunca foi uma limitação. “Nosso perfil era aberto quanto a raça, cor. A gente só tinha definido que seria uma menina, porque já tínhamos dois meninos', explica a mãe.

A história de Lelê é uma exceção, mas poderia ser a regra, se mais famílias estivessem abertas à diversidade e ao afeto incondicional. “Durante o processo a gente veio se preparando para isso. A gente sabia que poderia chegar uma criança diferente de nós', conta.

A construção do afeto racializado - Aline não esconde que teve medo. “Não por ela ser negra, mas por não saber defendê-la na hora que ela precisasse de mim. A gente até imagina o que uma pessoa negra a, mas não tem a vivência. Meu medo era não saber estar à altura', revela.

Mas foi justamente em um desses momentos que o amor falou mais alto. Poucos meses após a adoção, a filha, com apenas cinco anos, questionou a mãe sobre a diferença entre ela e a família. “Ela disse: ‘mãe, por que eu não sou igual você? Eu queria ser branca que nem você’', lembra a mãe.

Apesar do baque inicial, Aline soube transformar a dor em aprendizado. “Eu estava no trânsito e fui mostrando as folhas, as árvores. Disse que todas eram diferentes e nem por isso menos bonitas. Isso bastou para ela. Esse assunto encerrou ali', relata.

Hoje, Alessandra é uma criança segura, livre para brincar e cercada de amor. Para o pai, Vinícius, a filha é um furacão de afeto. “Ela movimenta a casa. Dizem que menina é mais tranquila, mas só se for a filha dos outros', brinca.

Segundo ele, a adoção foi um processo de aprendizado e desconstrução. “É um misto de decisões, de saber se vai dar conta, mesmo já tendo filhos. Hoje meu coração é dividido em três: meus dois filhos e ela. Ela veio para bagunçar de novo a nossa casa, com alegria e energia', finaliza.

A família Benko de Carvalho foi uma das homenageadas na exposição fotográfica “Nasce uma família, a história continua...', montada no Comper da Avenida Ricardo Brandão. O projeto é uma iniciativa do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul.

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